Quem
é você para julgar?
Meus
caros amigos, voltarei novamente aquela velha e já tão batida questão que eu insistentemente
escrevo aqui: PRECISAMOS PARAR DE COLOCAR A CULPA DOS NOSSOS ATOS EM DEUS OU NO
DIABO!
Na
última quinta-feira uma mãe assassinou com cinquenta facadas o filho de seis
anos de idade. A cidade inteira ficou em choque não só pela brutalidade com que
o crime foi cometido, tendo em vista que, foram, segundo a perícia, cinquenta
facadas em uma criança, mas também pelo fato do crime ter sido cometido pela
mãe do mesmo.
Quando
a notícia estourou nas redes sociais, uma enxurrada de ameaças e dicas de como
ela deveria ser torturada e morta surgiu dos mais “calmos e delicados” seres da
sociedade, afinal, é sempre muito fácil expressar o que há de pior nas redes
sociais. Comentários nada sutis de que ela estava endemoniada e que por isso
matou filho também não faltou.
Em
um dos comentários, vi o apelo entristecedor de um rapaz que se dizia primo da
mãe do garoto morto e ele pedia respeito pela família que estava sofrendo
demais, primeiro pela perda, depois, por não entender como uma mãe tão amorosa
como ela, podia ter feito uma atrocidade destas.
Os
jornais também noticiaram que há oito anos ela teve um surto psicótico e que
foi internada em um dos hospitais especializados da cidade, mas que depois
disto se mantinha uma pessoa lúcida e calma. Ainda na mesma matéria, disseram
que o garoto morto era uma criança autista.
Na
verdade, não conheço a família ou a veracidade de todos os fatos, pois como
expliquei acima, todos os dados que estou repassando aqui, foram retirados dos
vários jornais online que li, mas convido vocês a uma reflexão:
1º
Caberia a nós julgar que ela estava endemoniada, culpando uma entidade
espiritual por um ato humano, desconsiderando todos os fatores que poderiam
estar por trás dessa tragédia?
2º
Uma pessoa que teve um surto psicótico
teria capacidade de cuidar sozinha de uma criança autista? (Porque em nenhum
momento falou-se da presença de um pai na vida desta criança, mas que ela
morava sozinha com a mãe em um pequeno quartinho alugado nos fundo de uma
casa).
3º
Em que condições financeiras e psicológicas essas duas criaturas viviam? (Será
que isso não foi também um agravante para que a tragédia acontecesse?).
É
muito fácil apontar o dedo para as pessoas dando-lhes julgamentos impiedosos
com o pretexto de que foram motivadas pelo diabo. Difícil é se por no lugar do
outro, enxergando com olhos além do nosso próprio umbigo.
Haverá
quem pense que eu estou defendendo uma criatura das trevas que matou o seu
próprio filho, quando estava possuída pelo demônio, mas não é isso que eu quero
passar. O que quero dizer é que tenho duas amigas que possuem filhos autistas e
que para não enlouquecerem, pois os filhos delas são superativos, tiveram que
fazer terapia também. Tiveram que ter apoio da família e do pai para dividir
com elas o fardo de um filho autista. Sim, um fardo, porque romantizar a
patologia, não diminuirá o trabalho e atenção que ela exige.
As
crianças autistas que conheço vivem em um mundo particular e que na maioria das
vezes não toleram bem o convívio com a sociedade, pois se apavoram e se agitam
ainda mais. Isso faz com que a vida dos pais dessas crianças seja muito reclusa
e cheia de desafios. Quando a família é unida e tem condições financeiras para
lidar com esta criança adequadamente, tratando com os respectivos
especialistas, que incluem terapeutas, psicólogos e fonoaudiólogos a vida é bem
mais fácil e tragédias como essa são evitadas.
Agora
tente se por no lugar desta mãe, que já tinha um problema psicológico e que
sozinha, convivia com uma criança autista.
Luciene
Linhares
21
de Agosto de 2016
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