domingo, 21 de agosto de 2016

Quem é você para julgar?



Quem é você para julgar?

Meus caros amigos, voltarei novamente aquela velha e já  tão batida questão que eu insistentemente escrevo aqui: PRECISAMOS PARAR DE COLOCAR A CULPA DOS NOSSOS ATOS EM DEUS OU NO DIABO!
Na última quinta-feira uma mãe assassinou com cinquenta facadas o filho de seis anos de idade. A cidade inteira ficou em choque não só pela brutalidade com que o crime foi cometido, tendo em vista que, foram, segundo a perícia, cinquenta facadas em uma criança, mas também pelo fato do crime ter sido cometido pela mãe do mesmo.
Quando a notícia estourou nas redes sociais, uma enxurrada de ameaças e dicas de como ela deveria ser torturada e morta surgiu dos mais “calmos e delicados” seres da sociedade, afinal, é sempre muito fácil expressar o que há de pior nas redes sociais. Comentários nada sutis de que ela estava endemoniada e que por isso matou filho também não faltou.
Em um dos comentários, vi o apelo entristecedor de um rapaz que se dizia primo da mãe do garoto morto e ele pedia respeito pela família que estava sofrendo demais, primeiro pela perda, depois, por não entender como uma mãe tão amorosa como ela, podia ter feito uma atrocidade destas.
Os jornais também noticiaram que há oito anos ela teve um surto psicótico e que foi internada em um dos hospitais especializados da cidade, mas que depois disto se mantinha uma pessoa lúcida e calma. Ainda na mesma matéria, disseram que o garoto morto era uma criança autista.
Na verdade, não conheço a família ou a veracidade de todos os fatos, pois como expliquei acima, todos os dados que estou repassando aqui, foram retirados dos vários jornais online que li, mas convido vocês a uma reflexão:
1º Caberia a nós julgar que ela estava endemoniada, culpando uma entidade espiritual por um ato humano, desconsiderando todos os fatores que poderiam estar por trás dessa tragédia?
2º  Uma pessoa que teve um surto psicótico teria capacidade de cuidar sozinha de uma criança autista? (Porque em nenhum momento falou-se da presença de um pai na vida desta criança, mas que ela morava sozinha com a mãe em um pequeno quartinho alugado nos fundo de uma casa).
3º Em que condições financeiras e psicológicas essas duas criaturas viviam? (Será que isso não foi também um agravante para que a tragédia acontecesse?).
É muito fácil apontar o dedo para as pessoas dando-lhes julgamentos impiedosos com o pretexto de que foram motivadas pelo diabo. Difícil é se por no lugar do outro, enxergando com olhos além do nosso próprio umbigo.
Haverá quem pense que eu estou defendendo uma criatura das trevas que matou o seu próprio filho, quando estava possuída pelo demônio, mas não é isso que eu quero passar. O que quero dizer é que tenho duas amigas que possuem filhos autistas e que para não enlouquecerem, pois os filhos delas são superativos, tiveram que fazer terapia também. Tiveram que ter apoio da família e do pai para dividir com elas o fardo de um filho autista. Sim, um fardo, porque romantizar a patologia, não diminuirá o trabalho e atenção que ela exige.
As crianças autistas que conheço vivem em um mundo particular e que na maioria das vezes não toleram bem o convívio com a sociedade, pois se apavoram e se agitam ainda mais. Isso faz com que a vida dos pais dessas crianças seja muito reclusa e cheia de desafios. Quando a família é unida e tem condições financeiras para lidar com esta criança adequadamente, tratando com os respectivos especialistas, que incluem terapeutas, psicólogos e fonoaudiólogos a vida é bem mais fácil e tragédias como essa são evitadas.
Agora tente se por no lugar desta mãe, que já tinha um problema psicológico e que sozinha, convivia com uma criança autista.

Luciene Linhares
21 de Agosto de 2016



Nenhum comentário:

Postar um comentário