quinta-feira, 15 de dezembro de 2016
terça-feira, 6 de dezembro de 2016
NÃO ABORTE O DIREITO DE UMA MULHER
NÃO
ABORTE O DIREITO DE UMA MULHER
EU
SOU A FAVOR DA DESCRIMINALIZAÇÃO DO ABORTO!
Eu
conheço a alma humana o suficiente para saber que esta minha afirmação irar
levantar muitos questionamentos sobre quem sou e o que penso! E eu me importo
com isso sim, mas corro o risco porque acredito que todos os meus textos são
convites a um diálogo aberto e sem hipocrisias.
Sim!
Eu tenho duas filhas!
Não!
Eu não programei nenhuma das gestações!
E
ambas me custaram um preço altíssimo! (É a partir deste ponto que convido a
todos que se dispuserem a ler este texto, que o faço com o mínimo de bom senso
e empatia).
Eu
nasci num lar pobre, estudei em escolas públicas e com muito esforço, estudando
em casa, consegui passar para uma boa Universidade. Junto com o resultado do
vestibular veio o resultado de um exame de ultrassom para uma gravidez da qual
eu não esperava.
Eu
tinha ido sozinha ao consultório e quando o médico falou que eu estava grávida,
fiquei em choque. Demorei um tempo para conseguir me mexer e sair da cama. Ele
percebeu e pediu para a secretária trazer água e delicadamente perguntou se eu
era casada e quando falei que não, ele sentou-se ao meu lado e tentou me dizer
os riscos de um aborto e que o melhor que eu tinha a fazer era ter a criança.
Minha
mãe era uma mulher muito dura, ela sempre nos acompanhou e sonhava para nós uma
faculdade e um futuro melhor. Gravidez fora do casamento para ela, era o fim!
Eu
estava desempregada, vivendo na casa de meus pais e sem a mínima condição
psicológica de criar um filho, pois foi algo que NUNCA desejei.
Eu
NUNCA desejei um filho, porque ao contrário do que muitas imaginam, uma criança
requer inúmeros cuidados e abdicações. Eu sabia disso antes mesmo de ser mãe, porque
eu observava as outras mães.
Até
hoje não lembro como voltei para casa depois que sai do consultório, mas lembro
que passei o resto da tarde dentro do meu quarto, imaginando o que fazer.
A
noite, quando meu namorado chegou, conversamos e nos restava duas alternativas.
O aborto ou enfrentar toda a situação para criar o filho que estava no meu
ventre. Ele também tinha passado no vestibular e tinha outros planos para a sua
vida, então, falou com uma enfermeira que ele conhecia e por 60 reais a mulher
disse que conseguiria uma medicação suficiente para induzir ao aborto.
Novamente
voltei para o meu quarto e ponderei os prós e os contra sobre o aborto, lembrei
que há seis meses, a irmã de uma amiga tinha morrido devido uma hemorragia após
utilizar a mesma medicação para aborto.
Decidi
ter a criança, nos casamos no mês seguinte e tocamos nossas vidas com muita
dificuldade.
Quando
minha mãe soube ela ficou triste e com raiva de mim. Eu era citada como exemplo
ruim para as outras: “Você não vai para a festa. Não vai fazer como a sua
irmã...”
Ninguém
quis faz ideia do quanto foi difícil abrir mão do sonho de fazer um curso
superior para viver uma vida regrada e com muitas dificuldades.
Fizemos
o filho JUNTOS, mas apenas A MINHA VIDA PAROU! O meu marido continuou trabalhando,
terminou o curso na universidade e seguiu sem maiores obstáculos.
Eu
fiquei em casa, lavando, passando, cozinhando e tomando conta de nossa filha.
Perdi
as contas de quantas noites perdi cuidando dela. Foram noites inteiras, sentada
ao lado do berço ou da cama, vigiando seu sono enquanto ardia em febre. Foram inúmeras
idas e vindas ao médico.
A
verdadeira dor é a dor de um filho, vê um filho sofrer é o pior sentimento que
podemos suportar. Um acesso a um soro nos custa uma angústia sem tamanho. Quem
é mãe, sabe do que estou falando.
Quando
o filho cresce, vem outras preocupações e todas elas são geralmente jogadas
para a mãe. Quando o filho vai mal na escola ou é mal educado na sociedade,
logo, julgam a mãe. “Esta criatura não tem mãe?”
Eu
amo profundamente as minhas filhas, mas assumo que paguei um preço alto demais
por elas. Eu abri mão de muitos dos meus sonhos por elas. Tive que traçar novas
rotas pra não me perder nesta vida.
Só
quem pagou o meu preço, sabe do que estou falando, então, é muito triste ver
tantos “discursos” hipócritas e machistas nas redes sociais atacando as
mulheres que desejam ter o direito sobre o seu próprio corpo.
É
mais ridículo e hipócrita ainda, ver que as próprias mulheres acusam a sua
classe como única “culpada” de uma concepção “indesejada”!
As
frases “se não quer ter filho, fecha as pernas” é uma aberração a inteligência!
Vocês
realmente acham que a culpa é unicamente da mulher?
É
muito fácil tocar um teclado para emanar ódio e julgamentos desnecessários, difícil
é tocar uma alma com gentileza e empatia suficiente para tentar entender o que
o outro está sentido, o que o fez decidir por um aborto, por exemplo!
Deixa
eu passar uma real para você que é uma fiel defensora da vida que está no
ventre: Esta “vida” é de inteira responsabilidade de quem a carrega e por este
motivo cabe apenas a mesma decidir por levar ou não a gravidez até o final.
Mais
uma real, só de brinde:
Nem
todo mundo tem o mesmo conforto financeiro, psicológico ou familiar capacitado
para receber de braços abertos uma gravidez indesejada!
Há
pessoas que sequer possuem o que comer!
Há
pessoas que possuem outros sonhos!
Há
homens rudes que não usam preservativos!
Há
mulheres com intolerância aos anticoncepcionais!
Há
pessoas que não querem a responsabilidade de filhos!
Para
fazer uma laqueadura a mulher precisa, entre muitos pré-requisitos, a assinatura
do marido, autorizando o procedimento. (E todos nós sabemos que há homens que
são cavalos e não autorizam o procedimento).
E
todas elas fazem SEXO! E como todos nós sabemos, há a necessidade de um homem e
uma mulher para que haja a concepção de um filho. Então, vos pergunto: Porque
apenas as mulheres são responsabilizadas pela concepção?
Porque
são tão julgadas por tentar obter um direito básico: o direito de decidir
quanto ao seu próprio corpo?
Você
que defende o direito a vida, poderia começar pela vida da mulher, que é a
geradora da vida, dando-lhe o direito de dar vida apenas no momento em que se
sentir preparada para isso!
Luciene
Linhares
06
de Dezembro de 2016
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