Mãe
sem “chantilly”
Este
texto não é indicado para: as “mães” que possuem uma comitiva de empregados
para cuidar de seus filhos, as “mães” cujo maior trabalho foi parir e jogar nas
costas de um parente (geralmente a avó), as “mães” de fotos (aquelas que
negligência os filhos, mas estão sempre bem e fofas nas fotos das redes sociais
e finalmente, as “mães” que são um pouco de cada uma das citadas acima, mas
pagam de “amorzinho” defendendo ferrenhamente a maternidade como a coisa mais
linda e perfeita do universo inteirinho.
De
repente você está grávida, como aconteceu, cabe apenas a você (já vi muita
gente “inteligente” julgar quem engravida e chamar de burro e sem noção de
métodos anticonceptivos e pouco tempo depois, tá lá, firme e forte, com um
resultado de gravidez positivo nas mãos e a língua no c#...
Então,
você engravida e o mundo insiste em dizer que isso é uma “dádiva”, um presente
fabuloso e que você será muito feliz com o seu pacotinho de felicidade embalado
com o título de filho. O que ninguém te conta é o que esse pacotinho vai
representar na sua vida e o quanto exigirá de você forças que você julgava não
ter.
Capitulo
1 da saga: Em grande parte dos casos de “amor verdadeiro”, o teste positivo
fará o seu “príncipe encantado” se mudar para Nárnia sem previsão de retorno!
Então, você estará sozinha e com um filho crescendo em seu ventre. Se você
morar com os seus pais, a receptividade não costuma ser das melhores, afinal, a
sua mãe sabe bem no que você se meteu e o peso que isto terá na vida de toda a
família.
Capitulo
2 da saga: Não bastasse o enjoo, as dores, o incômodo, o inchaço (você vai
ficar parecendo um sapo inflado nos últimos meses), o enchimento de saco dos
parentes fofoqueiros que te usam para piadinhas e perguntas inconvenientes que
eles sabem a resposta, mas insistem em perguntar só pra encher o teu saco.
Ainda tem o parto... Ah! O parto! Colega, se você não possuir plano de saúde e
for para o SUS, pode começar a por em prática todas as orações e mantras que
lembrar, porque você provavelmente vai passar por maus bocados! (Equipe
despreparada e hostil). Eu tive o “privilégio” de parir num hospital publico,
onde as enfermeiras após a triagem te depositam num canto de uma sala de
coleguinhas na mesma situação e que comecem os “jogos vorazes”, ou seja, você
vai sofrer dores terríveis e quando chama alguém pra te ajudar ou pelo menos
informar como está o andamento do parto, é atendida com grosserias e frases do
tipo: “pra fazer não doeu”, “tenha paciência que uma hora isso sai”, “o médico
está no horário de descanso e não quer ser incomodado”. Isso quando você não
adquire a capacidade da “invisibilidade” e por mais que chame e grite, as
equipe médica passam por você e sequer checam se tudo está correndo bem.
Fizeram minha cesariana depois de 12 horas de trabalho de parto sem dilatação,
com hipertensão e sangramento nasal. (Tenho ótimas recordações deste momento
lindo, pois o anestesista veio com má vontade e ainda ficou me agredindo verbalmente,
enquanto aplicava a anestesia, ele disse: “Hoje eu pisei em rastro de corno
mesmo! As bonitinhas de hoje em dia tem preguiça de cuspir o moleque de forma
natural e já chegam pedindo parto cesáreo, nessa merda de parto, além de
demorar a receber o valor ainda é menor do que o do parto normal”. Eu estava
passada de dor e cansaço, mas gritei que se ele estava insatisfeito com o
trabalho saísse que outros o substituiriam. Ele disse que eu estava nervosa e
que deveria me acalmar para meu beber nascer. Ameacei processá-lo e foi assim o
nascimento da minha filha.
Capitulo
3 da saga: Depois que minha filha nasceu tudo mudou... E desde então, eu jamais
soube o que era uma noite de sono. Nos primeiros meses de vida do seu filho,
não só dormir, mas comer, tomar banho e até fazer as necessidades fisiológicas
básicas, ficará para segundo plano. Quando o bebe dorme, você respira fundo
para ver se ainda está viva, buscando os resquício de quem você foi um dia e
corre para fazer o máximo de coisas que você puder antes dele acordar
novamente. Nessa fase você pensa com todo o seu ser: “Tomara que ele cresça
para que eu possa me sentir um ser humano de novo!”. Tolo engano, colega que
está nessa fase do game! Os jogos vorazes nem começaram...
Capítulo
4 da saga: Seus filhos pouco a pouco ficaram mais independentes, mais
independentes do que realmente são, aí é que vem a parte pesada da coisa: Um
buraco negro chamado “adolescência”! O ser fofinho e cheiroso que você cuidou
com tanto amor e dedicação agora está crescido e acha que você faz e diz tudo
errado. Seu filho é um adolescente e sua tarefa ficou ainda mais pesada e difícil,
esse troço de criar filho não tem fim! O jogo vai só subindo de nível de
dificuldade! O ser fofinho foi agora substituído por uma criatura em formação
que acha que sabe tudo e que você não tem poderes sobre ele. É neste momento
crucial em que você vai ter que se impor e mostrar quem manda no barraco,
porque se fizer corpo mole e confundir amor com permissividade, você não só
estará ajudando a deixar mais um ser humano bosta na face da terra, mas também
estará dificultando o trabalho de outras mães que batalham arduamente para
educarem seus filhotes em construção. Porque o filho que é negligenciado com o “benefício”
da permissividade fantasiada de amor, torna-se uma pessoa prepotente e sem
limites. Colega, se você não educar, a vida educa. Se você não ensinar, a vida
ensina. Se você não punir quando necessário, a vida punirá. A diferença é que o
peso da vida é infinitamente maior do que o de mãe, pois mãe age por amor e com
amor.
Eu
estou no capitulo 4 desta saga, assim como milhares de mães. Não é fácil! Mas, como
sou uma boa leitora de livros e da vida, sei que essa saga se estende além da
vida, porque amor de mãe é eterno e por mais que seu filho cresça, amadureça e
viva a própria vida, a mãe sempre estará com ele em pensamento.
Serão
noites solitárias velando pelo sono durante cada doença da infância,
preocupações com as amizades e sentimentos que vão surgindo na adolescência e
orações para que evoluam e sejam bons e felizes.
A
maioria das mulheres não possuem dinheiro ou parentes para deixar os filhos,
então são os sonhos e a carreira que ficam de lado para que ela cuide e eduque
a criança que foi feita por duas pessoas, mas que um deles acha que bancar as
despesas é a maior e única responsabilidade que lhes cabe. Ficando para a mãe
todas as tarefas acima, acrescida dos relatórios de prestação de contas para o “paigador”.
A sobrecarga que as mães enfrentam e que muitas vezes a levam a exaustão é por
falta de cooperação dos pais que acreditam que o dinheiro é tudo que podem
oferecer. Agem como se o filho fosse um investimento a longo prazo, no qual ele
disponibiliza recursos financeiros e exige retorno em forma de bom
comportamento, boas notas e um futuro profissional brilhante.
Ah!
Ia esquecendo... A responsável pelo sucesso ou fracasso do investimento paterno
é totalmente da MÃE. Ela é questionada sempre que o filho faz algo errado,
tendo que dar relatório detalhado do que aconteceu e de como está sendo
contornada a situação para o pai, afinal, tudo deve estar sobre controle e
caminhando em plena prosperidade, pois “ele
trabalha para isso”.
Ser
mãe é viver num turbilhão de dúvidas, medos, incertezas e amor. Haverá dias em
que você terá medo de que seu filho morra de uma simples gripe, porque sua
inexperiência e amor a farão ficar com o coração em frangalhos por vê-los
sofrer, também haverá dias em que você terá vontade de mata-lo, de tanta merda
que ele fez, porque os erros deles serão seus. Porque você o amará com tanta
intensidade que assumirá os seus fracassos e se questionará se em algum ponto a
culpa foi sua, buscando em si a falha que não é sua, mas da nova criatura que
está em formação e que começa a escolher o seu próprio caminho.
Você
verá amor e também ódio nos olhos de seu filho e terá que erguer a cabeça e
aceitar a ambos com sabedoria e fé de que seus esforços terão sentido quando
ele estiver adulto e for um ser humano do qual você é capaz de se orgulhar.
As
mães não desejam que seus filhos sejam ricos e famosos, mas que sejam bons e
felizes! Não exigem boas notas e excelentes resultados acadêmicos, mas
respeito, honestidade e bom caráter.
Assim
como muitas de vocês, eu escolhi SER MÃE. Abri mão de muitas coisas, abri mão
de uma parte de mim mesma, mas essa parte de mim que se foi, não era a melhor
parte, mas a que deveria ser substituída por algo melhor e mais precioso, a
maternidade. O que eu ganhei é de valor imensurável e eu jamais faria outra
escolha, que não fosse ser mãe de minhas duas filhas. Elas me ensinam a ser o
ser humano que eu devo ser.
Felicito
a todas as mães que solitariamente travam suas batalhas diárias com fé e forças
que não são suas, mas da divindade que as incumbiu desta difícil tarefa que é
dar a luz!
Para
dar a luz é necessário ser luz...
Luciene
Linhares
12
de Maio de 2018