O gosto da felicidade
Saudade
é de verdade um bichinho que rói agente por dentro, abrindo buracos que o tempo
insiste em manter.
Quando
criança vive momentos que de tão belos se tornaram eternos em mim. Tardes de
conversas animadas no terraço da casa de minha avó, o café bem quentinho,
bolachas amanteigadas e muito carinho.
Meu
avô sentava-se ao meu lado e punha-se a contar inúmeras histórias que ele
ouvira quando criança, na verdade era um pouco dele sendo doado pra mim. Guardo
também na memória estes presentes que meu avô tão gentilmente passou para mim.
Bonecas
com caras de bonecas (hoje a maioria delas possui caras estranhas, seguindo os
padrões estabelecidos pela tv), pipas, pião, bolinhas de gude, cadernos e lápis,
este era um arsenal, que permitia a criatividade ser exercida em sua plenitude
na minha infância.
Não
existia celular, smartphone, tabletes e todas estas tecnologias que hoje
aproximam as pessoas, mas isto não impedia que tivéssemos belas e verdadeiras
amizades. Tenho uma amizade que graças a Deus sobrevive há mais de 20 anos e
nosso meio de contato na infância era o grito por cima do muro de nossas mães. Eu
gritava, ela respondia e agente saia pra brincar no campinho em frente de casa.
Com o compromisso de voltar antes do anoitecer, sobre pena de encarar nossas
mães e ficar de castigo pelos próximos dias.
A
vida era menos virtual e bem mais real...
Jogávamos
bola, andávamos de bicicleta, conversávamos por horas a fio sem pressa de
acabar. Repassávamos as mesmas conversas procurando outra ótica que pudesse
explicar, caso achássemos que era um problema e assim íamos vivendo, aprendendo
e sendo felizes, sem motivos e por isto, com todos os motivos do mundo pra ser
feliz.
Há!
Havia as fofoqueiras de plantão nas janelas, observando e passando a frente
tudo quanto ouviam, viam e imaginavam ter visto e ouvido. Hoje, isto foi substituído
pelo facebook, que é a nossa fofoqueira de plantão e com a DESvantagem de estar
online 24 horas por dia, todos os dias. As primeiras, pelo menos davam uma
trégua de vez em quando...
Tive
uma infância com pouca ou quase nada de tecnologia, mas muito, muito carinho e
motivos reais para ser feliz.
Não
tem jeito, eu gosto do que é simples, que fala ao coração.
Gosto
de gente que olha no olho, que abraça apertado, que enxerga com o coração.
Gente
que sabe o valor de uma amizade, e principalmente, sabe o valor que a vida tem.
Não
é o carro importado, a roupa de grife ou a conta bancária que te faz melhor, é
o que você carrega no peito.
É nas conversas animadas de fins de tarde, que
saboreamos não só o gosto do café quentinho, mas o gosto da vida. Amigos são
sempre bem vindos, ainda mais se for do
face... face a face!
Conversa
de Passarinho
28
de Julho de 2013