A
puta que você pariu
Quando
esta palavra é proferida, logo nos vem a mente uma série de adjetivos e sentimentos
ruins interligados. Mas, você já parou para pensar quem são as putas de
verdade?
Com
certeza a maioria de vocês não pararam para pensar sobre o ser humano que está
sobre o jugo da palavra puta, e muito provavelmente irá pensar que sou uma puta
também, por abordar o assunto tão hipocritamente escondido embaixo das camadas
mais obscuras de suas próprias famílias e amigas.
Segundo
o dicionário a palavra puta significa: meretriz, mulher que se prostitui, que
faz sexo com muitos homens, rameira, prostituta.
Mas,
um simples significado não define um ser humano por completo, acredito que
todos vocês que leem este texto agora, possuem a capacidade de enxergar isso,
porque caso contrário, vocês também poderiam ser definidos por apenas uma
palavra, e qual seria a palavra que melhor os definiria?
Hipocrisia
à parte, sabemos que todos nós temos defeitos e virtudes das quais somos
formados e não por este motivo não podemos ser definidos por apenas uma palavra
devido a complexidade de nossas relações com o mundo e conosco mesmo.
Então,
porque as “putas” são definidas, humilhadas, massacradas, julgadas e rejeitadas?
Desde
o tempo de Jesus as “putas” eram julgadas e apedrejadas em praça pública,
enquanto os “homens” que se deitavam com elas, no mínimo assistiam a tudo de
forma fria e apartidária. Afinal, a culpa é sempre da mulher!... Quanta
ignorância alimentada ao longo de centenas de anos...
Quem
são as putas de hoje em dia?
Segundo
o dicionário, são as mulheres que se deitam com muitos homens, por exemplo. Então,
quantas de vocês, mulheres são capazes de afirmar de forma honesta que só foram
para a cama com apenas um homem?
Quantas
de vocês pode levantar a mão e dizer honestamente que não foram para a cama com
um homem casado ou que tiveram uma aventura amorosa fora do seu próprio
casamento?
Quantas
de vocês possuem filhas jovens que vão para festas e vivem uma vida normal, na
qual transam com vários homens ao longo de suas vidas ou em casos mais extremos
com mais de um, numa mesma noite?
Quantas
de vocês, mulheres, tiveram que ir para a cama com um homem para conseguir uma
ajuda para comprar um gás que estava faltando ou o leite do seu filho pequeno,
porque o seu “amado” marido a deixou por outra mulher, encarregando-a de cuidar
de seus quatro ou cinco filhos com uma pensão de miséria que não cobre nem o
aluguel?
E
você que é um filho da puta que foi sustentado à vida inteira, porque sua mãe
saia com homens para te dar a melhor educação, a melhor alimentação e as
melhores condições de vida para que você fosse um ser humano melhor. Que fosse
um ser humano capaz de se por no lugar dos outros por um instante, sem o ódio que
já é uma marca registrada de nossa raça. E agora você se tornou não um filho da
puta, mas um merda que não sabe valorizar os sacrifícios que sua mãe fez por
você, demonstrando assim respeito para com os outros.
Eu
não estou romantizando a prostituição como uma “profissão” da qual eu desejo
exercer, mas estou chamando a atenção de vocês para olhar o ser humano por
baixo da sujeira que muitas vezes a vida a impôs a viver.
Eu
não sou burra o suficiente para acreditar que toda “puta” é uma pobre coitadinha,
uma vítima da sociedade, pois esta “profissão” hoje tem seu “glamour” e muitas “filhinhas
de família” optam pela profissão pela ilusão de dinheiro fácil e rápido, não
medindo as consequências que isto trará ao longo de suas vidas, pois são marcas
profundas das quais o tempo é incapaz de apagar e volta e meia, um cliente vai
apontar o dedo para a mesma como um objeto do qual ele fez uso e pagou por
isso, uma peça de brechó da qual ele usou e abusou e agora outro a pegou para
chamar de sua.
Mas,
minha solidariedade é para aquelas mulheres que esmagadas pela fome, miséria e
desespero são obrigadas a vender seus corpos para criaturas tão pobres de
espírito que acham nesta condição de infinita tristeza uma forma de encontrar
prazer.
Minha
solidariedade é para as mulheres que para alimentar seus filhos, vendem-se como
objetos inúteis e baratos, quando na verdade possuem um valor incalculável aos
olhos de Deus, mas desvalorizadas pelos homens são jogadas na lama dos
julgamentos alheios, que só permite ver o que a superficialidade dos fatos
mostra.
Daí,
você que tem seu alimento, casa e família tudo em perfeita “harmonia”, deve tá
brava comigo pensando:
“Ah,
mas estas mulheres deviam procurar um emprego digno para sustentar seus filhos.”
Queridos
leitores, eu sei que vocês sabem que o mercado de trabalho está PÉSSIMO!
Acreditem! O mercado de trabalho está péssimo para quem tem ensino superior,
mestrado e até doutorado. Sabe como eu sei disso tudo? Porque eu também estou
procurando emprego e o que mais vejo nas seleções em que participo são pessoas
com um grau acadêmico elevado, mas com família passando necessidade, o que os
leva a buscar vagas cada vez mais abaixo de suas competências para suprir as
necessidades de seus lares.
Agora
você se ponha no lugar de muitas donas de casa que não possuem o ensino médio e
que passaram uma boa parte de suas vidas em casa tomando conta de seus filhos e
de repente se veem obrigadas a lutar para ganhar o pão.
Imaginem
como é para essas pessoas entrarem num mercado de trabalho que elas desconhecem
por completo.
Você
sabia que a maioria das empresas pedem experiência para os cargos mais simples?
Sabia
que na maior parte dos casos, você só consegue uma vaga de emprego se tiver
alguém que o indique?
Você
sabia que até para trabalhar de doméstica as pessoas pedem referências,
experiências e indicação de alguém conhecido e que depois disso tudo, a maioria
das patroas exploram a mão de obra ao ponto da escravidão?
Outro
dia eu vi um anúncio num grupo de emprego do Facebook no qual a mulher queria
uma pessoa para tomar conta de uma criança pequena e de todas as tarefas da
casa e o que ela oferecia de salário por mês era 150 reais.
Já
pensou você trabalhar o mês inteiro para ganhar 150 reais para sustentar a sua
família?
Se
hoje aparecesse na sua porta uma mulher dizendo que tinha sido abandonada pelo
marido com cinco filhos pequenos e que precisava trabalhar para alimentá-los
porque já são quase onzes horas da manhã e as crianças não comeram nada, você
daria um emprego de doméstica para ela?
Ou
fecharia a porta de seu lar, sem por um segundo sequer, imaginar que aquelas
crianças famintas poderiam ser seus filhos e que aquela mulher desesperada
poderia ser você?
Há
uma grande diferença entre puta por opção e por obrigação, saiba diferenciar as
duas, e principalmente, aprenda a não julgar nenhuma, pois, uma dia você pode
ser a puta que pariu.
Luciene
Linhares
26
de Junho de 2017