segunda-feira, 26 de junho de 2017

A puta que você pariu



A puta que você pariu

Quando esta palavra é proferida, logo nos vem a mente uma série de adjetivos e sentimentos ruins interligados. Mas, você já parou para pensar quem são as putas de verdade?
Com certeza a maioria de vocês não pararam para pensar sobre o ser humano que está sobre o jugo da palavra puta, e muito provavelmente irá pensar que sou uma puta também, por abordar o assunto tão hipocritamente escondido embaixo das camadas mais obscuras de suas próprias famílias e amigas.
Segundo o dicionário a palavra puta significa: meretriz, mulher que se prostitui, que faz sexo com muitos homens, rameira, prostituta.
Mas, um simples significado não define um ser humano por completo, acredito que todos vocês que leem este texto agora, possuem a capacidade de enxergar isso, porque caso contrário, vocês também poderiam ser definidos por apenas uma palavra, e qual seria a palavra que melhor os definiria?
Hipocrisia à parte, sabemos que todos nós temos defeitos e virtudes das quais somos formados e não por este motivo não podemos ser definidos por apenas uma palavra devido a complexidade de nossas relações com o mundo e conosco mesmo.
Então, porque as “putas” são definidas, humilhadas, massacradas, julgadas e rejeitadas?
Desde o tempo de Jesus as “putas” eram julgadas e apedrejadas em praça pública, enquanto os “homens” que se deitavam com elas, no mínimo assistiam a tudo de forma fria e apartidária. Afinal, a culpa é sempre da mulher!... Quanta ignorância alimentada ao longo de centenas de anos...
Quem são as putas de hoje em dia?
Segundo o dicionário, são as mulheres que se deitam com muitos homens, por exemplo. Então, quantas de vocês, mulheres são capazes de afirmar de forma honesta que só foram para a cama com apenas um homem?
Quantas de vocês pode levantar a mão e dizer honestamente que não foram para a cama com um homem casado ou que tiveram uma aventura amorosa fora do seu próprio casamento?
Quantas de vocês possuem filhas jovens que vão para festas e vivem uma vida normal, na qual transam com vários homens ao longo de suas vidas ou em casos mais extremos com mais de um, numa mesma noite?
Quantas de vocês, mulheres, tiveram que ir para a cama com um homem para conseguir uma ajuda para comprar um gás que estava faltando ou o leite do seu filho pequeno, porque o seu “amado” marido a deixou por outra mulher, encarregando-a de cuidar de seus quatro ou cinco filhos com uma pensão de miséria que não cobre nem o aluguel?
E você que é um filho da puta que foi sustentado à vida inteira, porque sua mãe saia com homens para te dar a melhor educação, a melhor alimentação e as melhores condições de vida para que você fosse um ser humano melhor. Que fosse um ser humano capaz de se por no lugar dos outros por um instante, sem o ódio que já é uma marca registrada de nossa raça. E agora você se tornou não um filho da puta, mas um merda que não sabe valorizar os sacrifícios que sua mãe fez por você, demonstrando assim respeito para com os outros.
Eu não estou romantizando a prostituição como uma “profissão” da qual eu desejo exercer, mas estou chamando a atenção de vocês para olhar o ser humano por baixo da sujeira que muitas vezes a vida a impôs a viver.
Eu não sou burra o suficiente para acreditar que toda “puta” é uma pobre coitadinha, uma vítima da sociedade, pois esta “profissão” hoje tem seu “glamour” e muitas “filhinhas de família” optam pela profissão pela ilusão de dinheiro fácil e rápido, não medindo as consequências que isto trará ao longo de suas vidas, pois são marcas profundas das quais o tempo é incapaz de apagar e volta e meia, um cliente vai apontar o dedo para a mesma como um objeto do qual ele fez uso e pagou por isso, uma peça de brechó da qual ele usou e abusou e agora outro a pegou para chamar de sua.
Mas, minha solidariedade é para aquelas mulheres que esmagadas pela fome, miséria e desespero são obrigadas a vender seus corpos para criaturas tão pobres de espírito que acham nesta condição de infinita tristeza uma forma de encontrar prazer.
Minha solidariedade é para as mulheres que para alimentar seus filhos, vendem-se como objetos inúteis e baratos, quando na verdade possuem um valor incalculável aos olhos de Deus, mas desvalorizadas pelos homens são jogadas na lama dos julgamentos alheios, que só permite ver o que a superficialidade dos fatos mostra.
Daí, você que tem seu alimento, casa e família tudo em perfeita “harmonia”, deve tá brava comigo pensando:
“Ah, mas estas mulheres deviam procurar um emprego digno para sustentar seus filhos.”
Queridos leitores, eu sei que vocês sabem que o mercado de trabalho está PÉSSIMO! Acreditem! O mercado de trabalho está péssimo para quem tem ensino superior, mestrado e até doutorado. Sabe como eu sei disso tudo? Porque eu também estou procurando emprego e o que mais vejo nas seleções em que participo são pessoas com um grau acadêmico elevado, mas com família passando necessidade, o que os leva a buscar vagas cada vez mais abaixo de suas competências para suprir as necessidades de seus lares.
Agora você se ponha no lugar de muitas donas de casa que não possuem o ensino médio e que passaram uma boa parte de suas vidas em casa tomando conta de seus filhos e de repente se veem obrigadas a lutar para ganhar o pão.
Imaginem como é para essas pessoas entrarem num mercado de trabalho que elas desconhecem por completo.
Você sabia que a maioria das empresas pedem experiência para os cargos mais simples?
Sabia que na maior parte dos casos, você só consegue uma vaga de emprego se tiver alguém que o indique?
Você sabia que até para trabalhar de doméstica as pessoas pedem referências, experiências e indicação de alguém conhecido e que depois disso tudo, a maioria das patroas exploram a mão de obra ao ponto da escravidão?
Outro dia eu vi um anúncio num grupo de emprego do Facebook no qual a mulher queria uma pessoa para tomar conta de uma criança pequena e de todas as tarefas da casa e o que ela oferecia de salário por mês era 150 reais.
Já pensou você trabalhar o mês inteiro para ganhar 150 reais para sustentar a sua família?
Se hoje aparecesse na sua porta uma mulher dizendo que tinha sido abandonada pelo marido com cinco filhos pequenos e que precisava trabalhar para alimentá-los porque já são quase onzes horas da manhã e as crianças não comeram nada, você daria um emprego de doméstica para ela?
Ou fecharia a porta de seu lar, sem por um segundo sequer, imaginar que aquelas crianças famintas poderiam ser seus filhos e que aquela mulher desesperada poderia ser você?
Há uma grande diferença entre puta por opção e por obrigação, saiba diferenciar as duas, e principalmente, aprenda a não julgar nenhuma, pois, uma dia você pode ser a puta que pariu.

Luciene Linhares

26 de Junho de 2017

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