AMIGOS
DOCES
Vivemos
num turbilhão de informações e cobranças diárias que raramente paramos para
analisar a preciosidade que é a vida com todas as suas criaturas.
Há
algumas semanas minha filha mais nova foi diagnosticada com diabetes, confesso
que eu perdi o chão e não sabia que tinha asas que poderiam me fazer evitar o
choque com o chão de uma nova realidade que passaria a fazer parte do nosso
cotidiano.
A
dieta, as várias furadas no dedinho dela para verificar os níveis de açúcar no
sangue e a contagem mais longa do mundo que se resumia a 10 segundos de
apreensão e medo do resultado que se apresentaria no aparelho de medição,
faziam meu coração quase parar de bater. Na verdade, eu ainda não sei se as
batidas seguiam a contagem de segundos ou se acelerava o suficiente para que eu
não conseguisse sentir.
De
repente o que era alegria virou uma tristeza. Tirar doces de uma criança é,
literal e subjetivamente a coisa mais difícil de fazer para uma mãe. Ver seu
filho ser privado dos prazeres que os doces e demais guloseimas oferecem é uma
dor que vai além da compreensão. Mas, lá estava eu no supermercado, procurando
coisas gostosas e DIET. Tentando de todas as formas, fazer a vida dela mais
doce sem que para isso a vida dela fosse colocada em risco.
Esse
texto fica como um alerta para tantas mães que como eu, na tentativa de
acertar, acabou errando na dose de doçura oferecida e gerou com isso um
problema.
Ao
fazer outros exames e no desespero de que ela pudesse ficar dependente de
insulina, tivemos uma “boa notícia”, em vista toda a minha apreensão. A minha
filha aos 10 anos de idade foi diagnosticada com diabetes tipo 2 ( a que é adquirida
com a idade) e não precisaria tomar insulina, mas fazer dieta e exercícios físicos
regularmente.
A
médica nos explicou que hoje, infelizmente, cada vez mais, estão surgindo nos
consultórios, crianças como a minha filha. Crianças com altos níveis de açúcar no
sangue, com diabetes tipo 2. E isso é um reflexo da vida que elas levam, pois
não saem para brincar, não se movimentam como deveriam, se alimentam com
comidas calóricas na companhia de seus computadores e celulares.
Embora
meu peso não seja lá o “ideal”, eu nunca tive problemas com taxas de açúcar no
sangue, mesmo um histórico familiar de diabéticos, porque sempre me movimentei
muito. Ao contrário dos nossos filhos, nós brincávamos, corríamos, andávamos de
bicicleta e bola com os vizinhos. E isso era extremamente bom para a nossa
saúde física e mental. Pois, trago no corpo a vitalidade que as brincadeiras me
proporcionaram e no coração a alegria de cultivar por longos e adoráveis anos a
amizade do tempo de criança.
Amigas
que estão até hoje presentes e que me fazem um bem enorme.
E
por falar em amizade, também quero deixar aqui a minha profunda admiração,
respeito e carinho pela turminha do quinto ano da escola ESO, a turma da minha
filha Isabelle, por serem tão preciosos e cultivarem em seus corações o
sentimento que há de mais belo neste mundo, o da EMPATIA!
A
professora propôs um evento de despedida de turma com “amigo doce”, mas a turma
inteira gritou que não queriam fazer um amigo doce, pois Isabelle iria ficar de
fora por ser diabética e que preferiam um amigo secreto, para que ela pudesse
participar.
Foi
um pequeno, GIGANTE gesto que fez a minha filha muito feliz e que transbordou o
coração da mãe dela de alegrias e renovação de fé. Fé de que nem tudo está
perdido e que nossas crianças ainda podem fazer deste lugar um lugar melhor e
mais belo, onde o problema do outro, por menor que seja, não é só dele, mas de
toda a coletividade.
O
presente já foi comprado e ela está toda animada para a festinha!
Não
será um “amigo doce”, mas saibam que todos vocês são os amigos mais doces que
uma criança pode ter!
Gratidão!!!!
Luciene
Linhares
15
de Dezembro de 2017