Decepção ou surpresas? ...
Só depende de você!
Até
bem poucos dias eu não sabia que ele sequer existia...
Mas,
numa noite fria em que por acaso (que é o jeitinho que Deus dá de por as coisas
no lugar) eu me atrasei nos benditos serviços domésticos e entrei pela noite
com a lavagem de roupa, então quando fui estender as roupas que havia esquecido
na máquina ouvi seu choro desesperado na rua.
Larguei
tudo que estava fazendo e gritei para que minha filha trouxesse as chaves do
portão para que eu pudesse ver o que estava acontecendo, quando abri o portão
vi o Tutu (batizado assim pela minha caçula, na verdade é a abreviação de
Arthur) miando desesperado de portão em portão. Parecia implorar para que o
ajudassem, para que o tirassem dali. Os carros passavam em alta velocidade logo
após a calçada e a cada carro ele corria e se escondia na primeira pedra ou
batente que encontrava pelo caminho.
Ele
estava tão assustado que não aceitava a minha ajuda, tentei me aproximar por
diversas vezes, mas quando chegava mais perto, ele corria. Não tiro suas razões
para temer a mão que queria ajuda-lo, afinal, antes da minha mão, outras
apareceram e com certeza não foi para ajudar.
A
equipe de resgate se revezou na tocaia do gatinho assustado, minhas filhas
trouxeram comida e a caixinha de transporte e depois de muito pega, mas não
pega, conseguimos pegá-lo!
No
outro dia ele já parecia outro gato, dócil, brincalhão e extremamente
carinhoso. O gato tem demonstrado muito mais caráter do que muitas pessoas que
eu tive o desprazer de conhecer. Isto me fez repensar muito a respeito do que
as pessoas esperam dos relacionamentos, mesmo quando o relacionamento é de
amizade com um animal.
Tenho
observado tristemente o preconceito que as pessoas nutrem para com os gatos,
falam que os gatos são traidores, frios, insensíveis e interesseiros. Dizem que
preferem os cachorros porque tomam conta da casa, são obedientes e amorosos. E
eu me pergunto, afinal, quem é mesmo interesseiro?
Não
aprendemos a amar por amar, mas nos condicionamos a doar esperando o respectivo
retorno do que foi investido. Nos envolvemos em relacionamentos extremamente frustrantes
porque esperamos receber aquilo que doamos, mas o ser humano não tem manual de instrução
e muito menos altruísmo para ceder aos caprichos daqueles que os escolhem por
objeto de amor.
O
gato talvez seja o mais parecido com o ser humano, exceto que eles (os gatos)
possuem uma grandeza de espírito mais elevada do que a maior parte de nossa
raça (a humana). Se um gato não gostar de você meu amigo, certamente ele
demonstrará isto rapidinho e se você vacilar tentando uma aproximação, ainda
pode levar de brinde uma boa arranhada num lugar estratégico.
Entenda
de uma vez que falsidade e hipocrisia são características suas (dos humanos) e
não dos gatos. Eles não são obrigados a saírem correndo atrás de você o tempo
todo, se eles se aproximarem de você em busca de carinho, é porque realmente
querem isto e não porque precisem disto. Então, aproveite!
Ao
invés de ficar com inveja do bichano por ele não ter o seu complexo de carência
e inferioridade, aprenda com eles a se bastar. Aprenda a amar sem esperar algo
em troca, a viver a vida de forma simples, só assim seus dias terão mais surpresas
boas do que decepções.
Não
esperar pelo outro é a melhor forma de ter o que se quer.
Luciene Linhares
22 de Julho de 2014