sábado, 26 de julho de 2014

Como colar os pedaços de um coração






Como colar os pedaços de um coração

Tudo começa com a saga do sábado à noite...
O dia parece ter se arrastado, porque você não vê a hora de sair do trabalho (que na maioria dos casos te prende no mínimo até o meio dia) e correr para o salão. Corta daqui, (mais só um pouquinho), pinta dacolá, faz unha e corre para casa para montar o “visu” que vai simplesmente arrasar as colegas!
Banho demorado, depilação em dia e figurinos diversos espalhados por todos os lugares possíveis do quarto.
E você começa a experimentar cada um deles, checando no espelho que te deixa com a bunda mais empinada e com os seios mais atraentes, mas afinal, para quem você está se arrumando? Isto nem mesmo você sabe!
Daí você liga paras as amigas que ainda vivem neste mesmo frenesi das baladas e combinam de se encontrar num lugar “bacana” e na hora H, todas estão lá, como peças de uma feira, uma feira de gente. Exuberantemente expostas à diversão!
“Uma bebida para esquentar o clima e olha só aquele gato que tá me olhando, ele me chamou para sair, o que vocês acham meninas?” (pergunta a mais animada do grupo)
“Vai nessa, aproveita! Ele é lindo e homem está em falta!” (Responde a outra, que já não sabe ao certo o que é certo).
E assim a bebida aquece o corpo a medida que gela a alma.
No outro dia, os corpos que se incendiaram e pareciam terem nascido um para o outro, ou até mesmo pareciam ser um só, se afastam e se repelem como opostos que são.
Quando o dia nasce trás com ele a ressaca física, mental e emocional que foi tão bem maquiada pela mascara da noitada.
E minha amiga, não se engane, a dor de cabeça que o álcool costuma trazer não é a única dor que você vai sentir, enquanto buscar preencher seus vazios com os vazios dos outros.
As festas costumam ser os lugares mais cheios de gente vazia do universo, cada uma buscando o que lhe falta no outro, são cacos de gente tentando formar um inteiro que nunca se junta, pois sempre falta um pedaço.
Não se engane: No outro dia ele não vai ligar, aquela amiga só vai te procurar para a próxima farra e os “best friends forever” da noite anterior serão capazes de não te reconhecer na próxima balada, caso você não tenha algo a oferecer.
Por mais chato que possa parecer, a solidão as vezes é a melhor companhia, para isto minha amiga entenda bem os tipos existentes e veja em qual delas você se encaixa!...
Há vários tipos de solidão:
Solidão acompanhada: é aquela que você está com alguém, mas este alguém não está com você ou você não está com ele como deveria ser, então apenas ocupam lugar na vida um do outro impedindo de que se libertem para a felicidade.
Solidão forçada: é a mais perigosa das solidões, pois o indivíduo tem a imensa necessidade de estar com alguém e para isto não mede esforços em se meter em confusões emocionais desastrosas só para não ficar sozinho.
Solidão por solidão: é aquela solidão que faz bem, que faz com que o individuo não sinta a necessidade de outra pessoa para se preencher, pois nele não há vazios a serem preenchidos, apenas há a satisfação de se sentir confortável e feliz com a sua própria existência. Neste ultimo tipo de solidão, não quer dizer que a pessoa é insensível e que despreza a humanidade porque é autossuficiente, mas quer dizer que ele se ama o bastante para enxergar que para ser feliz não precisa do outro, mas de si mesmo. E que se abrir mão de sua solidão será não para ser preenchido, mas para fazer transbordar.
Quando descobrir em qual solidão você se encaixa imagine a seguinte cena:
Você ganhou um vaso precioso que o seu amado pai lhe deu como herança e por descuido você o deixou cair e ele se espatifou, no desespero de recuperar o que perdeu, você tentará colher todos os pedacinhos do vaso e calmamente tentará colar eles um a um, mesmo sabendo que não será o mesmo, você tentará de todas as formas consertar o que quebrou.
 Agora me diga, você acha que esta tarefa de colar os pedaços seria mais fácil de fazer num lugar barulhento com pessoas sem noção alguma do valor que o vaso tem pra você, tentando te “ajudar” ao mesmo tempo que pisam e espalham ainda mais os pedaços?
E se eu te disser que este vaso é o seu próprio coração (sua fé, sua autoestima, seu amor próprio) que Deus tão generosamente te deu e que por inocência e cegueira você o deixou nas mãos de alguém descuidado que o quebrou?
Como pretende colar os pedaços de sua solidão de hoje em diante?
Luciene Linhares
26 de Julho de 2014