segunda-feira, 24 de setembro de 2018

No limiar da dor



No limiar da dor

Tão impossível quanto mensurar a dor alheia é determinar o tempo pelo qual ela vai permanecer. Em outro texto eu falei dos abusos que uma amiga sofria em seu relacionamento e do quanto aquilo tudo me aborrecia, mas eu não podia sentir e muito menos agir, por ela.
Não podemos carregar o fardo que pertence ao outro...
Essa é uma tarefa muito difícil de realizar quando vemos alguém sofrendo ao nosso lado, mas há coisas e situações, que apenas as pessoas envolvidas podem resolver. E para minha alegria, recebi a notícia de que ela finalmente saiu daquele relacionamento abusivo. Ela saiu no tempo dela, da forma que achou melhor e hoje está vivendo uma nova fase de sua vida, na verdade, ela finalmente está vivendo...
Eu tive o desprazer de assistir a uma sessão de xingamentos que tinha como único objetivo, minar a autoestima da minha amiga. O marido dela a fazia sentir-se como um lixo, pois só assim ela estaria no mesmo patamar ao qual ele pertence.
Trazê-la para baixo com frases do tipo: “você é muito feia!”, “você está gorda demais!”, “que mulher mais desmantelada é essa!”, “onde eu estava com a cabeça quando me casei com você?”, “você é muito burra!”; era a forma que ele tinha de manipula-la.
Fazê-la acreditar que não possuía valor, que era feia, burra e desmantelada, nada mais era, do que, uma estratégia covarde de domínio e submissão. De tanto ouvir aquilo, ela acabou acreditando! E com isto, ela achava que estar ao lado dele era a melhor coisa a ser feita, a sua melhor opção. Afinal, quem iria querer uma mulher feia, burra e desmantelada?
Os dias foram passando e a minha amiga ia se tornando aquilo que o covarde projetou nela. Ela se deixou abater e não se cuidava mais. Sua vida se resumia a trabalhar muito para manter o seu marido.  Engraçado, né?!...  Um homem tão inteligente e cheio de virtudes era incapaz de se manter financeiramente e precisava da ajuda da esposa para se bancar.
Este mesmo homem também possuía um gosto para jogos e diversões que tomavam muito do seu tempo, “impossibilitando-o de estudar e buscar algo melhor”.
Enquanto ele se divertia e a chamava de burra, ela se qualificava e crescia.
O mais intrigante é que ele a destruía com palavras ao mesmo tempo em que a acusava de traição. Se ele a considerava uma mulher tão feia, gorda e sem valor, porque tinha ataques de ciúmes?
Porque ele sabia o real valor da pessoa que estava ao lado dele. Sabia também que tinha revertido os valores para manter a vida confortável. E sabia que no dia em que ela enxergasse tudo o que ele covardemente fez, o relacionamento teria um fim e ela voltaria a viver de forma plena, enxergando no espelho a baita mulher que é. E foi isso o que aconteceu!
Eu gostaria de dizer a vocês que ela despertou de repente e que viu o lixo que ele era, mas não foi um processo tão simples assim. Ela foi enxergando aos poucos, sempre relutando para não ver a verdade, pois o medo da solidão a incomodava, o medo do desconhecido a apavorava! E sair de uma relação de anos é algo assustador mesmo!
Mas, um certo dia ela viu no computador, as provas de uma traição dele e finalmente ela o enxergou de verdade, e viu que não queria mais estar ao lado de alguém tão feio, burro e sem caráter. “O feitiço” de manipulação se quebrou e minha amiga refez sua vida de forma leve e feliz!
Ei, psiu! Você que está lendo isso agora e se viu na situação de minha amiga, não espera uma traição para enxergar a sua beleza! Não permita que te rebaixem apenas para se manterem no mesmo nível num relacionamento.
A gente ama o que admira...
Então, se não valoriza, não é amor!

Luciene Linhares
24 de Setembro de 2018

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