A
vida que leva agente...
A
vantagem de ter amigos em diferentes classes sociais é que você enxerga a vida
por diversas maneiras, sobre os olhares e impressões dos mesmos. É uma riqueza
de detalhes e ensinamentos constantes.
Num
desses cursos que inventei de fazer por não saber ainda o que eu queria da
vida, tive a oportunidade de desenvolver um projeto em sala de aula que
simulava a abertura e manutenção de um negócio, tínhamos que fazer desde um
estudo de mercado até toda a contabilidade da empresa fictícia.
Os
grupos se formaram e o nosso ainda não tinha escolhido o tema, ou melhor, não sabíamos
o que criar para o projeto, visto que deveria ser algo que ainda não existia na
nossa cidade, foi aí que me lembrei de alguns amigos e suas relações com as
mascotes. Então, dei a sugestão de criarmos um hotel pra cães e gatos.
E
foi com o relato abaixo que apresentei o nosso negócio/projeto escolar...
Cachorro
de rico sempre tem nome chique, como: Sofia, Charlote, Arthur Frederico entre
outros.
Já
o cachorrinho de pobre tem geralmente nome de comida ou mesmo nomes inventados,
criações dignas de um prêmio de criatividade. Os bichinhos tem os nomes de:
Cocada, Picolé, Chuchu, Macaíba, Micuím, Pixutucho de Mamãe e por aí vai a criatividade.
O
rico quando vai se ausentar por um final de semana (geralmente numa viagem de negócios,
afinal, a maioria deles vive pra trabalhar), passa no mínimo quatro dias
conversando com o cachorrinho antes de viajar, tentando explicar para o bicho
que ele realmente precisa se ausentar, mas que o ama incondicionalmente, (porque
eles juram que os cachorros estão entendendo toda a loucura humana deles).
Quando chega o dia da viagem, o dono do cachorrinho rico prepara toda a bagagem
sua e do totó, afinal o totó tem uma parafernália de bugigangas, caminha e
brinquedos que não é brincadeira!
Algumas
horas depois, o cachorrinho que iremos chamar de Charlote, para dar nomes aos
bois, está linda, penteada e perfumada no hotel próprio pra ela. Com muitas
recomendações e promessas de ligar para saber como andam as coisas, o dono de
Charlote segue sua viagem de coração apertado.
Agora
é a vez do cachorro do pobre, veja como a coisa acontece!
O
cachorrinho pobre que iremos chamar de Micuím, também fica sem o dono, pois o
mesmo precisa se ausentar pelo menos duas vezes por ano, geralmente para um
velório de um parente próximo (isto se ele tiver uma pequena reserva de
dinheiro pra custear as despesas da viagem) ou se tiver sorte, ele vai á praia!
Ah! Essa viagem a praia eu prometo contar em outro episódio!
Mas,
pra não ficar triste, afinal de morte e desgraças, já basta a televisão e o
bendito jornal que passa ao meio dia na minha cidade. Aquilo que é uma fonte de
emagrecimento, pois se você ousar ligar a TV no horário de almoço perde o
apetite instantaneamente, com todas as notícias tenebrosas que o infeliz do
reporte apresenta.
Vou
contar a vocês um pouco da vida de Micuím e o que acontece quando seu dono vai
á praia! Micuím, vive pelo quintal, porque se ousar botar o focinho dentro de
casa, leva logo uma bronca, toma banho com sabão de barra, daqueles que é um
tablete, claro que não é próprio pra animais, porque não sobra grana pra este
luxo.
Sua
comida é servida em cumbucas (aqueles recipientes que vem com doce, goiabada,
paçoca), sua cama é um tapete velho ou o pano de chão que ele roubou do varal.
E quando seu dono vai viajar, grita pra vizinha: “Maria de Bil, tu pode butar o
resto de comida pra Micuím amanhã, mulé? É que eu vou pra praia no busão
fretado de cumpadre Chico de Bilô! Qualquer coisa, tu joga aí por cima do muro
mesmo!”
Micuím
e Charlote possuem vidas diferentes, mas o que os diferencia é o tempo que os
donos dispensam a eles. Micuím, tem menos etiquetas e mais qualidade. Charlote
por sua vez, tem a vida abarrotada de luxo e um dono ausente pelos infindáveis
compromissos que mantém o luxo lixo.
Bem,
este foi o meu projeto empreendedor do curso, reflexos do que acontece e das
necessidades de cada um. Eu precisava de um projeto, Micuím de comida e
Charlote de tempo e vocês, de que precisam?
Conversa de Passarinho
22 de Junho de 2013