sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Amar é para poucos



Amar é para poucos

A vida nos deixa muito sem esperanças e sem fé no amor, é tanta hipocrisia e falsidades, tantos “eu te amo” servindo de legenda para fotos de pessoas frias nas redes sociais que nos questionamos se afinal, o amor ainda existe!
E foi num desses dias que minha fé na humanidade estava pra lá de apagada que encontrei com uma amiga de longa data, daquelas que mesmo passando meses sem ver ou conversar, você não perde a intimidade de conversas francas e restauradoras.
Minha amiga tem uma filha, uma moça hoje com vinte e três anos, quando eu a conheci ela tinha quinze e era uma menina linda, inteligente e sensível. A filha de minha amiga ajudava a mãe na escolinha que ela possuía e foi na escolinha que a conheci. Minha filha estudava lá e todas as tardes quando eu a deixava na sala, parava para conversar com a filha de minha amiga, embora tão jovem, ela era madura e muito amável. Uma excelente companhia.
Uma certa tarde a filha da minha amiga adoeceu e foi levada para o hospital. Fizeram inúmeros exames e descobriram tarde demais que a infecção que começou na garganta havia se alastrado pela corrente sanguínea. Ela teve septicemia e como consequência desta infecção agressiva, duas paradas cardiorrespiratórias.  
Os médicos conseguiram reverter o quadro das paradas e também da infecção, mas jamais trouxeram de volta a menina que ela foi (pelo menos parte dela).
A filha de minha amiga passou muito tempo sem respirar e seu cérebro foi muito danificado, faltou oxigênio. Após vários meses de internação, ela voltou para casa. Perdeu a visão, a fala e toda coordenação. A respiração depende agora de aparelhos. A alimentação é por sondas. Três coisas apenas lhes restaram, a audição, o sorriso e o amor da mãe. Este último, tenho certeza, é o motivo dos sorrisos que ela esboça.
Quando somos mãe, de certa forma, todas as crianças passam a ser nossos filhos também, sentimos a dor das outras. Chegamos mais perto do amor e da empatia, porque conseguimos de certa forma mensurar, mesmo que superficialmente, a dor e a alegria das outras mães.
Minha amiga mostrou as fotos da sua filha no celular, fotos dela em casa com muitos tubos conectados, mas feliz. Ela me falou que ela adora ouvir piadas e coisas engraçadas, falou que coloca os DVD de piadas do Zé Paraíba e ela ri muito e quando se cansa de ouvir, começa a emitir sons, que ela como mãe, sabe que é para trocar de DVD (nós mães, conhecemos nossos filhos tão profundamente que até quando não nos dizem nada, sabemos o que se passa com eles).
Enquanto eu olhava as fotos imaginando a dor daquela mãe que teve a vida de uma filha saudável transformada em tão pouco tempo, quando ela interrompeu os meus pensamentos dizendo a frase que jamais esquecerei.
- Semana passada ela teve outra parada cardíaca e eu fiquei apavorada, imaginando como seria a minha vida sem ela. Enquanto eu orava pedindo pra que ela ficasse bem, senti em meu coração uma paz sem explicação e uma voz dentro de mim falou “como será a vida dela sem você?”. Então, eu vi que já estou ficando velha e que ela só tem a mim para cuidar, então neste momento eu pedi para que ele a tirasse antes de mim!
Chorei ao ver o amor, o amor em forma de mãe.
O amor com que ela cuida e fala da filha nos fortalece, nos enche de paz e fé de que o amor que Jesus tanto pregou, realmente existe. É um amor verdadeiro, desinteressado e pleno.
Luciene Linhares

25 de Dezembro de 2015

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