sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Um lixo de vida



Um lixo de vida

Uma amiga querida trabalha na vigilância sanitária e outro dia ela me falou que houve uma denúncia de que havia carne envenenada no aterro e que até os urubus que haviam comido morreram.
Para muitos o parágrafo acima pode parecer banal e sem lógica, afinal qual o problema de se jogar carne envenenada no lixo? O aterro é um grande amontoado de lixo, e isso não deve fazer diferença alguma!
Mas, faz uma IMENSA DIFERENÇA para quem sobrevive do lixo!
Longe dos olhos de muitos, há gente como a gente que vive do lixo! Gente que recolhe aquilo que julgamos imprestável. Triste, né?!
Mas, há gente que se alimenta, se veste e sobrevive no lixo e do lixo.
Quando citei acima as palavras “se alimenta” é porque eles literalmente comem os alimentos que encontram no aterro, comem o que foi descartado e é por isto que o pessoal da vigilância sanitária se preocupa tanto com estes tipos de descartes, porque mesmo sem saber as pessoas podem morrer comendo algo assim.
Quando um alimento vence em nossa casa, nós jogamos fora. Afinal jamais comeríamos algo assim! Mas, e se eu te disser que muitas vezes este alimento chega ao aterro (levando em consideração as variações de temperatura e o próprio transporte, nada higiênico dos carros coletores de lixo) e que ele é aproveitado por homens, mulheres, crianças e idosos!
Difícil acreditar, né? Eu sei que é difícil até de imaginar que isso pode acontecer, mas acontece todos os dias nos aterros mundão afora!
Essa mesma amiga falou que ao conversar com um dos catadores sobre o risco de ingerir estes tipos de alimentos ele sorriu e falou:
- Mas, a gente não come quando tá envenenado não! A gente viu que até os urubus morreram! Mas, o melhor mesmo é quando vem o lixo dos supermercados, porque vem até congelado! A gente enche o bucho e fica forte e feliz!
Quero deixar a seguinte pergunta para vocês, caros leitores: Como se sentem sabendo que um semelhante vive assim?
Sabe o que é mais contraditório, é que minha amiga falou que havia felicidade nos olhos dele. Mesmo com tanta dificuldade e privação ele era feliz, animado! Brincava enquanto catava o seu lixo de cada dia!
Este homem nos dá uma lição não só do que é felicidade, mas do quanto somos pequenos e cegos. Somos cegos para o sofrimento alheio e ingratos, reclamamos na mesma proporção do que possuímos. Quanto mais possuímos, mais estamos insatisfeitos e infelizes. Quem será que tem um lixo de vida, ele ou nós?
Eu já visitei um aterro e é uma lição de vida, aconselho os caros amigos a irem também. Vão e levem seus filhos, mostrem uma realidade que existe e resiste sofridamente. A compaixão pode e deve ser ensinada, é uma forma de semear um amanhã melhor.
No aterro tem muito lixo, óbvio! Mas, tem muita gente boa também! Gente que não perde a fé e nem a alegria. Gente que brinca e ri da sua própria desgraça tornando assim o não só o seu fardo mais leve, mas aliviando o nosso também, mostrando-nos que nossos problemas são insignificantes diante do que eles vivem.  
Eu acho até que para Deus este tipo de gente são como flores de lótus, elas vivem na sujeira do egoísmo da humanidade que permite que seus irmão vivam sobre condições péssimas enquanto outros roubam descaradamente o que deveria alimentar os necessitados.

Luciene Linhares

29 de Janeiro de 2015

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