quinta-feira, 13 de abril de 2017

O GATILHO DA DEPRESSÃO



Antes de qualquer coisa, quero DEIXAR BEM CLARO QUE NÃO POSSUO QUALIFICAÇÃO ACADÊMICA PARA AVALIAR E TRATAR NINGUÉM!
Mas, quero compartilhar com vocês as minhas experiências sobre depressão e alguns outros transtornos psicológicos que tive no decorrer de minha vida e outros tantos que me acompanham até hoje.
A depressão ainda é um tabu na sociedade pelo fato de que muitos por desconhecerem este problema como uma doença tratável e controlável como tantas outras, preferem julgar e muitas vezes descriminar o indivíduo que já está mal, como doido, preguiçoso, mal agradecido e por aí vai...
Eu tive depressão e a grande maioria dos meus amigos sequer perceberam e os parentes mais íntimos, percebiam que havia alguma coisa errada, mas preferia ignorar ou julgar de alguma forma o que eles jamais poderiam supor que eu estava sentindo.
A depressão e devastadora, mas existe algo ainda pior de enfrentar, o julgamento de quem não entende o que nós sentimos.
Os mais religiosos julgam dizendo que você deve procurar Deus (não que isso seja errado), mas não é a falta de Deus que nos debilita, mas um conjunto de fatores físicos, biológicos e psicológicos.
Outros nos julgam ingratos porque invejam a nossa vida e ao olhar para o que possuímos não conseguem acreditar que estamos “tristes” mesmo estando “tão bem”, estas pessoas não conseguem enxergar que nós não conseguimos enxergar o valor do que possuímos naquele momento por motivos que citei acima e não porque somos pessoas terríveis, incapazes de reconhecer tudo que o universo nos proporciona.
Tenho muitos amigos que já tiveram ou que estão deprimidos no momento e conversando com eles percebi que todos possuem um gatilho: algo em especial que ativa a depressão. Este gatilho, ou motivo, quando acionado vem com força total e por mais que você seja uma pessoa inteligente e racional, você simplesmente não consegue se desconectar dos pensamentos doentios por ele disparados.
Quando minha filha caçula tinha dois anos, ela passou por uma fase de doenças infantis que a levaram a muitas internações, exames e muito sofrimento. Este foi e é o meu gatilho depressivo.
Por longos seis meses fiquei muitos dias direto com ela no hospital, ela era um bebê e eu uma mãe cuidadosa, eu cochilava sentada numa cadeira enquanto segurava o braço ou perna dela para que não perdesse a veia e ter que furar novamente, pois cada acesso perdido era um tormento para mim, talvez mais para mim do que para ela, pois a dor de um filho dilacera a alma de sua mãe.
Nesse período, médicos despreparados e sem humanidade me fizeram perder o chão ao dizer que suspeitavam que minha filha estava com câncer e que se no raio x desse um alargamento do mediastino, seria câncer. Eu fui buscar este exame em prantos, lembro que ao receber o exame eu tremia tanto e chorava que não tinha coragem de ver o  que estava lá, mas abri e ela não tinha nada, absolutamente nada, graças a divindade.
No período de internação eu conheci o melhor e o pior do ser humano, médicos desumanos e enfermeiros e acompanhantes que foram pra mim, mais do muitos de minha própria família. A generosidade, a compaixão e o amor são a base daqueles quartos por vezes tão tristes.
Na época não possuíamos plano e o foi o melhor plano de Deus pra mim, pois no plano ficamos em apartamentos reservados, entregues apenas a equipe do hospital, mas nas enfermarias do SUS eu conheci o que chega mais perto do amor fraterno, pois todos se ajudavam. Uma mãe ajudava a outra, uma mãe dava força pra outra e as que tinham um pouco mais, dividiam com as que não tinham. Eram uma só força, um grande elo de vibrações positivas em prol das crianças que ali estavam. Embora esta experiência tenha deixado profundas cicatrizes em minha alma, eu sou grata pelo privilégio de ter conhecido um lado do ser humano que é raro de se ver aqui fora, quando tudo está bem.
As noites nos hospitais são longas, frias e inquietantes. A porta fica sempre aberta e tem sempre uma criança ou outra chorando, uma medicação ou outra para ser injetada. Pacientes chegam, outros partem. Mas, jamais esquecerei o grito de uma mãe que perdeu seu filho, não tive coragem de ir visitar, pois foi no quarto ao lado, mas a ala inteira ouvia seus uivos de dor. Todas nós choramos, pois a dor dela também era nossa.
Com o tempo minha filha foi crescendo e descobrimos que ela graças a Deus não tinha nada! Era só o sistema imunológico baixo devido um abalo emocional, pois ela adoeceu quando eu voltei a estudar. Descobri isso quando estava em completo desespero, quando nada mais fazia sentido pra mim, porque eu acreditava que minha filha não iria sobreviver.
Eu parei de comer e emagreci 20 kg em seis meses, parei de dormir, tirava apenas cochilos com pesadelos. Parei de raciocinar sobre tudo ao meu redor, eu só pensava na minha filha e nas possíveis doenças dela.
Eu lembro de alguma coisas dessa época, outras se apagaram. Lembro que alguns amigos tentavam conversar comigo para me ajudar, mas eu simplesmente ouvia o que eles diziam, mas não conseguia racionalizar o que falavam. A mensagem ficava girando em meu cérebro sem fazer sentido algum.
Eu passei a odiar todas as atividades que antes gostava de fazer e nada absolutamente nada me dava prazer. Meu foco era a minha filha.
Eu fazia planos de suicídio caso ela viesse a morrer, porque nada mais importava.
Minha vida desmoronou. Eu fiquei precisando de cuidados, uma tia a quem amo demais ficava a maior parte do tempo comigo, no fundo eu acho que ela tinha medo que eu me matasse, então sempre achava um jeito de ficar ao meu lado. Ela orava por mim, chorava comigo e me incentivava a lutar contra aquilo que eu sentia.
Então, fui ao psiquiatra e falei para ele tudo que estou escrevendo para vocês agora. Ele conversou comigo por uma hora, era além de psiquiatra um ótimo psicanalista, conversamos e com o jeito manso de falar ele foi me explicando o que eu estava sentindo e mostrando que as coisas que eu estava pensando faziam parte da minha imaginação, que o meu medo era fruto do excesso de amor e que eu precisava trabalhar isso, mas me receitou antidepressivos, calmantes para que eu  pudesse dormir e vitaminas porque eu não estava me alimentando.
Fiquei indo uma vez por mês para a terapia e me apaixonei por este processo de cura pela conversa, motivo pelo qual estudo a psicanalise até hoje e pretendo ainda trabalhar com isto.
As medicações foram sendo retiradas pouco a pouco, no que ele chama de desmame, pois como são controladas e causam dependência, não podem ser suspensas de forma abrupta, pois causaria abstinência.
Superei a depressão com a terapia, a medicação e o amor de minha tia!
Ficaram algumas sequelas que contarei ao longo do blogue!
Abraços Fraternos,

Luciene Linhares

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