Aprendendo
a jogar
As vezes sinto uma
imensa vontade de voltar a ser criança, não só pelas doces lembranças que este
pedaço de vida me proporcionou, os fins de tarde correndo atrás de uma bola, as
conversas intermináveis com minha melhor amiga, ou o lanche que minha mãe
preparava. Isto sem falar nas incríveis férias no sítio de minha avó, onde tudo
era liberdade, o cheiro do mato, o café bem quentinho, os lençóis perfumados
que ela reservava para mim dentro de uma mala. Até hoje sinto este cheiro na
memória de minha alma, mas o que me faz sentir vontade de voltar no tempo é a
lembrança da sensação de conforto e renovação que existiam em mim sempre que eu
caia.
Quando algum coleguinha
me derrubava (propositalmente ou não), eu rapidamente levantava e mesmo com
dores era fácil seguir em frente, perdoar o coleguinha e retomar a brincadeira,
do exato ponto de onde tinha parado. Pois eu não queria perder um só momento
daquela alegria.Hoje as quedas são diferentes, os coleguinhas, não tão inocentes. E quando alguém me joga ao chão, demoro a levantar. As feridas são mais profundas e o perdão mais difícil de encontrar.
O rancor torna-se um companheiro perigoso, esquecer a dor e ver as novas brincadeiras oferecidas pela vida já não é tão simples. Perdoar torna-se uma tarefa complicada e rotineira, porém vital.
Mas, pensando bem, talvez eu ainda seja aquela mesma criança, jogando no jogo da vida, apenas em outra fase. E como em todo jogo, ao passar pelas fases, o nível de dificuldade só aumenta, impondo do jogador cada vez mais habilidade e coragem. Ainda bem que não sou o tipo de pessoa que desiste fácil e neste jogo vou até o fim."
Conversa de passarinho
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