segunda-feira, 30 de julho de 2012

Encarando a vida de frente





"Encarando a vida de frente

Eu estava paralisada pelo pânico na cadeira da dentista, tentando a todo custo tirar o pavor do foco principal, tentei relaxar pensando no meu mantra favorito, mas o barulho enlouquecedor da broca impediu a minha tentativa. Daí, lembrei de todas aquelas técnicas furadas que nos ensinam para aliviar a tensão, voltando a atenção para outra coisa qualquer, então comecei a redigir mentalmente a crônica aqui escrita.  Eu estava toda feliz imaginando o que escrevia, quando vi a anestesia se aproximar e quase desmaiei.
Meu Deus a sessão de tortura parecia não acabar! Fiquei o tempo todo observando as idas e vindas da broca em minha boca, tensa mais de medo, do que de dor. E assim, foi-se a primeira sessão de um canal no meu molar.  Mas, como diz o ditado: “Alegria de pobre dura pouco”, e logo chegou o dia da segunda sessão, e lá estava eu na cadeira da aflição a espera do atendimento. Lembrando dos momentos vividos anteriormente, dei vida ao jargão “O que os olhos não veem o coração não sente”, parecia um plano perfeito. Decidida, fechei os olhos pra não ver o que estava acontecendo, na esperança de não sentir dor pelo fato de não ver aqueles assustadores objetos pontiagudos entrando em meu sofrido dente, ou no que sobrou dele! Mas, na boa, acho até que foi pior do que a primeira, porque além da dor e do desconforto próprio do canal (ampliado em mil por cento pelo meu pavor), me afligia não ver ao menos o que acontecia.
Em meio a tudo isto, me dei conta de que em inúmeras ocasiões tenho tentado esta mesma técnica de fechar os olhos para tudo que me machuca, porque o medo me paralisa e me cega. Há coisas em nossas vidas que corroem e ferem bem mais que brocas de dentistas, e as vezes essa corrosão acontece silenciosamente, quando você aceita a derrota como companheira, quando dá ouvidos a inveja e quando fecha os olhos para o seu potencial. Aprendi na cadeira da dentista, que fingir não enxergar não resolve nada, apenas amplia o dano emocional. Se for pra sofrer, que seja corroendo os velhos costumes, os defeitos que paralisam e machucam."

Conversa de Passarinho

                                                                                                       30 de Julho de 2012