Compaixão
anestesiada
Sentimentos
como solidariedade, compaixão e amor estão sempre presentes. Embora a imagem
passada seja ruim, pela gravidade da situação que cerca uma UTI, há lugar para
a demonstração de afeto gratuito, tanto de funcionários quanto de paciente e
seus respectivos familiares. É um lugar onde a vida luta bravamente para se manter,
acompanhada de perto pela fé e esperança
e cuidados dos que a assistem.
Conheci
muitas pessoas que até o último momento foram exemplos de paciência, coragem e
amor. Mas, como bem sabemos, há pessoas que levam o título de profissionais
pelo simples fato de possuírem um diploma, mas que não os horam como deveriam. Pessoas
incapacitadas tanto profissionalmente como psicologicamente e espiritualmente.
Tomando
como base o lema da enfermagem que é “a arte de cuidar”, pergunto-me todos os
dias como alguns profissionais conseguem dormir tranquilamente à noite sabendo
que não horam seu compromisso fundamental, que é cuidar. Presenciei uma cena
que marcou o meu estágio e também a minha vida. Eu estava checando a pressão de
um velhinho muito debilitado, quando percebi que ele havia defecado na fralda,
como era estagiária, não sabia onde se encontrava todo o material para a
limpeza e tinha que solicitar ajuda da enfermeira do plantão, então comuniquei
sobre o estado do velhinho e a mesma olhou para o relógio e viu que faltavam 45
minutos para terminar o seu plantão, ela com uma risada de deboche me disse
para deixar a troca de fraldas para o próximo plantão e saiu para a bancada
onde se envolveu em uma conversa animada sobre uma festa que havia acontecido
na noite anterior.
Como
um ser humano consegue ser tão insensível a dor do outro?
Que
“morfina” é esta que anestesia os sentimentos?
Isto,
se ela tiver sentimentos, coisa que também comecei a duvidar. E se fosse um parente
dela, será que ela agiria desta forma? Claro que não, se fosse um parente dela,
ela moveria céus e terra para que fosse bem tratado, abusando de seus contatos
na área para melhor acompanhar, talvez se certificando de que “profissionais”
como ela não chegassem perto de seu parente.
Mas,
como a dor é do outro, o que outro que se vire com sua dor.
Algumas
pessoas se guiam pela teoria de que, com o passar dos anos, alguns
profissionais da área de saúde, ficam insensíveis ao sofrimento dos pacientes, além
de não servir como justificativa, eu não creio que exista este tipo de
anestésico para a alma, a compaixão não se permite anestesiar, assim como não
dá pra fingir o que não se sente por muito tempo."
Conversa de Passarinho
28 de Julho de 2012